José Mestre Batista, um amigo

Nos principios dos anos 80 tive a sorte de poder viver aos fins de semana e nas férias na Lezíria de Vila Franca. Ali no Furadouro, numa propriedade dos meus Avós, onde tinha uma cocheira com quatro baias e uma casa sem luz e em que a àgua quente tinha de ser aquecida no fogão a lenha e colocada num depósito para um balde chuveiro, iniciou-se uma nova etapa da minha vida que ía conciliando com os estudos de direito. Com um Citroen Diane oferecido pelas Tias Maria Eugénia e Maria Raquel, lá ia dividindo a minha vida entre Lisboa, Vila Franca e Torres Novas. No Furadouro e na companhia do Diamantino, um verdadeiro campino ribatejano, desfrutava da pesca das enguias ao remolhão, dos passeios a cavalo, de tourear vacas na Estalagem do Gado Bravo e aos domingos nas Festas da saudosa estalagem tourear com publico e apanhar os primeiros sustos. Outro companheiro importante era o Bandarilheiro e homem bom Barrocal que com o Jorge mais conhecido pelo "Gaguetas" ajudavam-me e incentivavam-me. Ludovino Bacatum era outros dos amigos com quem convivia e que tinha um humor e umcaracter sarcástico que muito ilustravam e ajudavam a conhecer o mundo da tauromaquia e que me muito me honrou com a minha primeira ida à Torrinha depois de ter conhecido o Mestre David, também ali na Leziria. Nessa mesma altura, em Lisboa, conheci o José Zuquete e o João Cortesão ambos grandes amigos do José Mestre Batista. E foi com o Zé que comecei a ir a casa desse foi um grande amigo e enorme toureiro. Passado semanas disse-me para levar os cavalos para casa dele. Que ali estava melhor e que lhe faria companhia. E assim lá fui com o  Pombinho e a ele adquiri o Maravilha de ferro Gama, beber dos seus ensinamentos. Bebi bem a sua forma de tourear a sua forma de ser e de estar. Executar é que não consegui. Ou consegui de vez em quando... Quando faleceu a 17 de Fevereiro de 1985 eu estava em sua casa. Foi o primeiro grande embate psicológico da minha vida. Era um irmão mais velho. O Zuquete estava no México o que me deixava sem amparo. Quem me  ligou a avisar foi o Mestre Frederico dos Santos, às sete da manhã tocou o telefone e a minha mãe chamou-me. Não queria acreditar. Não era possível. Só acreditei quando o corpo chegou a Vila Franca. Um choque tremendo. Não sabia o que fazer. Passados uns dias lá fui buscar os cavalos que já eram mais e voltei para o Furadouro. Mas não era a mesma coisa. Faltava sempre o gozo, a brincadeira, o incentivo, o ralhar, o discutir. A partir desse dia o meu caminho teria de ser outro. O José Zuquete veio do México e com ele continuei. Mas o Batista fazia imensa falta a todos nós. Era um homem diferente em tudo. Inteligente, visionário, culto.
Tinha tantas histórias para contar que com ele tive o privilégio de compartilhar. Com ele com o Zuquete, com o Cortesão, o Lázaro e muitos outros. Tempos diferentes, tempos de categoria, tempos da tal verdade, amizade, honestidade e compromisso. Que depois se repetiram com o Joaquim Bastinhas uns anos mais tarde e que, um dia se a Saúde permitir e Deus o quiser, ainda contarei não em jeito de memórias mas de homenagem a estas  personagens tão importantes na minha vida, os que já partiram e os que felizmente ainda estão vivos. Como foi também o Luis Miguel da Veiga, o Emidio Pinto,o Paulo Caetano, o Manuel Jorge de Oliveira, o Gustavo, e mais tarde, o João Salgueiro, o Rui Fernandes Pai e Filho. Era outra gente. Não eram frustrados. Não cultivavam o umbigo. Eram simples mas com classe, com categoria. A eles devo muito. Nos toiros a eles devo tudo.
Que dia de nostalgia. Que saudades dessa gente de bem.